quarta-feira, 20 de novembro de 2013

In Memoriam - Jorge de Mello 1921-2013





A Presença da MCA nas exequias fúnebres do Dr. Jorge de Mello ( Sócio Honorário nº.1 da Memória Colorida Associação - Os Amigos da Colónia de Férias da CUF)
Dia 11 de Novembro de 2013, foi inumado o Dr. Jorge Mello, falecido aos 92 anos no Hospital da CUF, vitima de doença prolongada.
Tal figura tem para nós, membros da MCA uma importância vital e um lugar especial no nosso coração sendo Ele um dos obreiros da Colónia de Férias da CUF, local do qual gostava muito e onde se deslocava regularmente no período de Verão, para ver como estava o seu funcionamento.  

Assim e como não poderia deixar de ser, a Memória Colorida Associação fez-se representar na Basílica  da  Estrela para prestar as últimas homenagens a esta individualidade, onde depositaram uma coroa de flores com as cores da colónia.
Acompanharam, também o funeral até ao cemitério de S. Marçal no Lourel, Sintra, onde descansa em paz, no jazigo de família.

Deixamos a homenagem biográfica do Ricardo Ferreira ao Dr. Jorge de Mello, que poderão  ler em http://industriacuf.blogspot.pt/2013/11/in-memoriam-jorge-de-mello-1921-2013.html: 
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Esta semana fica marcada pelo desaparecimento daquele que para muitos foi considerado o último industrial português (quando me refiro ao termo "industrial" é de facto na acepção pura e dura de criação de indústria seja ela pesada ou ligeira). Por isso venho até vós para prestar o meu último tributo a esta personalidade para a qual sempre olhei com grande admiração. Se uns têm por ídolos jogadores de futebol, cantores, actores, há também aqueles que olham para os homens industriais e empresários, cujas suas visões empresariais contribuíram para o progresso do país nas mais diversas áreas e é esse o meu caso.
De seu nome completo Jorge Augusto Caetano da Silva José de Mello, nasceu em Sintra em 1921 no seio de uma família aristocrática com elevado peso no tecido produtivo da nação. Desde cedo lhe fizeram compreender a importância de ser um Mello e de ter por avô Alfredo da Silva. Vivendo uma infância repartida entre Sintra e Estoril, Jorge de Mello fez os primeiros estudos na Escola Primaria de Cascais, ingressando depois no Colégio Infante de Sagres.
No seu livro de memórias Jorge de Mello refere que:
"nunca senti nenhum privilégio especial, nem os meus pais alguma vez alimentaram essa ideia, quer comigo, quer com as minhas irmãs e o meu irmão. Ia para a escola a pé. Quando chovia, lembrava-me que havia automóveis na garagem, que estavam parados mas nunca tive a ousadia de falar nisso à minha mãe. É verdade que tinha gabardina e os meus colegas de escola, que apanhavam a mesma chuva, talvez não tivessem sapatos com solas tao grossas como os meus. Mas essa diferença não era sentida por mim, não era importante não me sentia diferente deles."
Efectuou depois os estudos superiores (muito a contra gosto) no Instituto Superior Técnico (ali se manteve ate ao 2º ano do Curso, tendo interrompido o mesmo para cumprir o serviço militar entre 1942 e 1945) onde Jorge se deveria formar em Engenharia Química, como era vontade expressa do seu avô. Porém Jorge sempre manifestou grande interesse pelo universo da gestão económica, assim e após a morte do seu avô decide inscrever-se no ISCEF, passando a ter uma vida bastante preenchida. Nestes primeiros anos, os estudos e as responsabilidades que lhe são atribuídas na CUF ocupam-lhe muito do seu tempo.
Jorge entra para a empresa em 1945, nunca época na qual a empresa estava a passar por grandes transformações e modernizações, que foram fulcrais para o crescimento e consolidação da CUF em novos sectores económicos do pós-guerra. É reestruturado e fortalecido o seu quadro de pessoal técnico, aumentado o seu nível científico, com o recrutamento gradual e seleccionado de dezenas de engenheiros, economistas, médicos, e outros especialistas para o desenvolvimento ou criação de novos serviços. É feita uma aposta muito significativa na área técnica e na área de investigação de forma a criar condições para se atingirem níveis de produtividade e eficiência paralelos aos observados nos países estrangeiros mais desenvolvidos. Neste período é descoberto a seu pai (D. Manuel de Mello) a doença de Parkinson, o que leva Jorge e o seu irmão José a assumirem responsabilidades e cargos de cada vez maior importância nos destinos da companhia. Durante este período para além dos negócios, estará intimamente ligado à criação da Colónia de Férias da CUF, localizada em Almoçageme e inaugurada em 1950, destinada aos filhos dos trabalhadores. Amante do Desporto, praticava, ténis, futebol, hóquei e tiro, chegando mesmo a ser campeão nacional desta modalidade. Sempre demonstrou grande carinho pelo Grupo Desportivo da CUF (apesar de ser um fervoroso adepto do Sporting) e sempre o tentou dinamizar o mais possível. Deslocava-se frequentemente ao Barreiro para ir assistir aos jogos de futebol do Clube. Como grandes iniciativas deste período pode-se destacar a criação da UFA em Alferrarede que produzia amoníaco electrolítico, a construção no Barreiro da primeira fábrica nacional de granulação de adubos (1951), a criação da fábrica de tintas Tinco (em associação com a multinacional inglesa I.C.I) ou ainda a participação da empresa através do seu sector metalo-mecânico, nas mais variadas obras públicas (construção de condutas forçadas, pontes rolantes, equipamentos para barragens, fabricas etc.) do esforço de modernização nacional do pós-guerra.

Se a década de 60 foi a época de ouro da economia nacional com crescimentos superiores aos da média europeia a procura de uma rápida aceleração/transformação do tecido produtivo e das actividades económicas, não o foi menos para a CUF. A empresa abre
novos horizontes, exporta para países que até então nenhuma empresa portuguesa sonhara fazê-lo: Japão, Austrália, Egipto, Alemanha, Estados Unidos, Europa do Norte, Bulgária etc., comprovando a qualidade dos seus produtos, bem como a capacidade concorrencial da empresa. Abarca novas áreas de negócio como a Hotelaria/Turismo, Alimentar, Estudos de Mercado, Bioquímica etc. Manuel de Mello era já um homem muito doente, e quem geria verdadeiramente o Grupo empresarial era Jorge e o seu irmão, José, a quem coube o mérito da criação dos Estaleiros da Lisnave, o primeiro empreendimento português vocacionado a 100% para o Estrangeiro.

Em 1963, Jorge de Mello é um dos mentores da C.I.E. - Comissão Interna da Empresa, que pretendia ser um elo de ligação entre os trabalhadores e a administração. Reunindo uma vez por mês na sede da CUF (Av. Infante Santo) membros da administração e representantes dos vários sectores industriais da empresa debatiam desde, assunto relativos às fabricas, segurança no trabalho, escola da CUF, colónia de férias, dispensa operaria, etc. Segundo se diz à época o próprio governo do Estado Novo ficou alarmado com tal coisa, achando que poderia trazer grandes malefícios para a empresa e para o trabalho nacional, mas tal não aconteceu. O empresário limitou-se a aplicar um modelo já existente em países mais desenvolvidos, onde as relações inter-laborais eram vistas com outra preocupação social.
Em Outubro de 1966 com a morte D. Manuel de Mello, Jorge irá naturalmente ascender à presidência da empresa, cargo que irá ocupar até 1975. No inicio dos anos 70, quando o Grupo CUF já se preparava para assumir projecção internacional havia uma espécie de cantilena que dizia assim: "Oh meu Portugal tão lindo, / oh, meu Portugal tão belo, / metade é Jorge de Brito, / metade é Jorge de Mello. Durante este período o Grupo para alem de uma constante aposta na modernização das suas fábricas, procura novos processos de fabrico, estende de novo a sua actividade a outros sectores da vida económica, (Frio Industrial, Decoração de Interiores, Mármores, Casinos, Cargas e Descargas Marítimas, Montagens Industriais, Super e Hipermercados, Restaurantes e Refeitórios etc.). São efectuadas joint-ventures com reputadas empresas internacionais, caso da Mitsubishi nas fibras sintéticas, a Billerud no fabrico da Pasta de Papel, ou da Kawasaki nos estaleiros navais etc. Juntamente com estas medidas, o Grupo CUF aposta na sua internacionalização tendo sido criadas as primeiras empresas no estrangeiro, casos da Interacid (Suíça), da Intercuf (Brasil), ou da Navelink (Suíça). A partir de 1973 essa mesma estratégia de internacionalização passa por um sério investimento no Brasil, onde a CUF pretende ganhar posição na indústria adubeira, fabrico de tabaco, alimentação e construção/reparação naval. Ao mesmo tempo a Companhia continuava a participar nos maiores projectos de desenvolvimento económico nacional, caso do novo Estaleiro Naval de Setúbal (Setenave) e do Complexo Industrial de Sines, na qual a CUF juntamente com a Sonap, começaram a construir a partir de 1973 uma refinaria de petróleos com uma produção anual de 10 milhões de toneladas/ano (que nos pós 25 de Abril passará para as mãos da Petrogal). Esta é também a fase em que o industrial manda chamar a prestigiada consultora Mckinsey por forma a reestruturar um Grupo cada vez mais complexo, em que alguns dos seus sectores atingiram já a saturação de vendas no mercado interno, sendo necessário perscrutar novos mercados, sectores a investir, e reconversão dos existentes.
O 25 de Abril de 1974 e as mudanças radicais ocorridas a nível político e económico nacional ditam no ano seguinte a nacionalização do Grupo CUF. Para se perceber a sua dimensão e importância no tecido económico nacional, refira-se apenas que nele trabalhavam mais de 110 mil pessoas, em mais de 150 empresas diferentes, que produziam mais de 1000 produtos diferentes, sendo responsável por 5% de toda a nossa economia. Meses depois do 25 de Abril, o seu irmão José Manuel de Mello, encontra-se com Álvaro Cunhal na sede do partido, numa tentativa de chamar a atenção para o facto de que a destruição não levava a nada. Cunhal ouviu e concordou em parte. Segundo José de Mello "na altura as pessoas ouviam mas não acontecia nada". Juntamente com o seu irmão, Ricardo Espírito Santo, António Champalimaud, Jorge de Brito, Mário Vinhas e outros empresários criaram a MDE/S (Movimento Dinamizador Empresa/Sociedade) numa tentativa de lançar as bases de uma moderna economia liberal de tipo ocidental. Mas os tempos não estavam para essas coisas.
Após o 11 de Março de 1975 as condições políticas e sociais do país agudizavam-se e Jorge de Mello bem como os restantes empresários não ficaram imunes aos novos ventos que se fizeram sentir. Assim a 12 de Março de 1975, o COPCON, pelas 18 horas na sede da CUF, leva o empresário para Caxias onde ficaria detido durante uma semana. E só lá esteve esse curto período graças à pressão exercida por várias personalidades nacionais e estrangeiras, de onde sobressai a figura do Presidente da República Francesa Valérie Giscard d´Estang.
Em pleno PREC, o dia a dia nas empresas era feito pelas comissões de trabalhadores, que controlavam tudo e todos, efectuando longos plenários onde tudo era discutido e debatido. Perante tal cenário, Jorge de Mello sabia que naquele momento permanecer no país era perda de tempo. Preferiu não assistir ao golpe final desflorado em Setembro através do Decreto-Lei 457/75 na qual o governo nacionaliza por fim a CUF. Partirá para a Suíça, onde ali permanece durante três anos, seguindo depois para o Brasil para um exílio, que só acabará em 1980 ano que regressará definitivamente a Portugal. Ficou também decidido pelos irmãos que dali para a frente, os negócios seriam repartidos. Numa entrevista o empresário explicou:
"Tem sido muito explorado o facto de sermos dois irmãos e de cada um ter o seu pequeno grupo. É que a nós foi-nos tirado tudo. Cada um de nós, o meu irmão, eu e as minhas irmãs recebemos como indemnizações aquelas títulos da divida pública, a 2,5% por 28 anos. Aquilo não dava para fazer muito: por isso, combinei com o meu irmão que cada um ia recomeçar tratando da sua vocação."
Assim em 1980 Jorge de Mello, decide reinvestir em Portugal, para tal arranja um escritório onde contava com uma equipa de 10 pessoas. Em 1982 adquire ao IPE - Instituto de Participações do Estado (organismo criado para gerir as empresas intervencionadas pelo Estado aquando das nacionalizações de 1975) a Alco, empresa de transformação de sementes oleaginosas. Para tal teve de vender grande parte do seu património: Quinta de Ribafria, a Herdade do Peral, A Casa do Monte Estoril (que era do seu avó Alfredo da Silva) etc.
Nos anos seguintes o empresário construiu um grupo empresarial vocacionado para industria alimentar, adquirindo antigas empresas pertencentes à CUF, casos da Sovena e da Compal. Em finais dos anos 80 é constituída a Nutrinveste. Esta tornar-se-á a holding do grupo Jorge de Mello para o sector dos óleos alimentares. Será sob a sua égide que em finais dos anos 80 princípios de 90 serão adquiridas empresas como a Lusol, Tagol, ou Fábrica Torrejana de Azeites, que irão catapultar a sua dimensão e volume de vendas. Apesar de ter dito "um empresário nunca se reforma. Não por uma questão de conquista, mas antes de continuidade", no início do ano 2000 entregou os negócios da família ao seu filho mais velho Manuel Alfredo de Mello.
Nos últimos anos de vida, o empresário levava uma vida calma, dividida entre os jogos de ténis, cartas, e algumas batidas de caça. Porém em 2005 Jorge de Mello sofreu uma queda na sua casa do Estoril enquanto brincava com os seus labradores. Partiu o colo do fémur e teve de se sujeitar a um período de fisioterapia. Infelizmente, no fim desse período de recuperação, sofreu um AVC e entrou em coma. Só recuperou a consciência meses mais tarde, ficando incapacitado de andar e de falar.
Aos 92 anos partiu para sempre deste mundo deixando o seu legado. Fechou-se para sempre o derradeiro ciclo da história da CUF. A sua última morada é o Cemitério de S. Marçal onde foi inumado no jazigo de família.
Para rematar esta minha sentida homenagem, deixo aqui um pensamento que se encontra no seu livro de memórias e eu considero que apenas alguém com inteligência superior e dotada de um grande sentido de visão poderia escrever isto:
"E quanto à riqueza, conheci muitas pessoas em Portugal, de quem nunca se falou, que eram e são muito mais ricas do que eu. E é claro que bastava passar a fronteira para encontrar pessoas muito mais ricas e poderosas do que eu alguma vez poderia ser em Portugal. A ideia de riqueza é muito mais um produto da imaginação dos que não se sentem ricos. Um dia alguém me falou do homem mais rico de Portugal, ao que respondi que também já tinha sido disso, com a ironia de quem me conhece a relatividade desses atributos e desses títulos."
Até sempre meu ídolo!!!
Por: Ricardo Ferreira (Presidente da Assembleia Geral Memória Colorida Associação)

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

CONDOLÊNCIAS DA MEMÓRIA COLORIDA ASSOCIAÇÃO À FAMILIA DO DR. JORGE DE MELLO (SÓCIO HONORÁRIO Nº. 1 DA MCA)



A MEMÓRIA COLORIDA - ASSOCIAÇÃO vem, por este meio, apresentar à família do Dr. JORGE AUGUSTO CAETANO DA SILVA JOSÉ DE MELLO, as mais sinceras condolências pelo seu falecimento.


Jorge Augusto Caetano Silva José de Mello, nasceu em 01 de Setembro de 1921 e faleceu dia 10 de Novembro de 2013, com 92 anos no Hospital Infante Santo, em Lisboa.

Foi um dos grande obreiros da Colónia de Férias, da CUF e da sua obra social.
Neto do grande industrial português Alfredo da Silva, continuou a obra de seu avô e seu pai (Manuel de Mello - entre 1942 e 1966), liderando o maior grupo empresarial português da sua época o Grupo CUF (Companhia União Fabril), de 1966 a 1975.
Após o 25 de Abril de 1974 e na sequencia das nacionalizações de 1975,
Jorge de Mello  cercado na CUF a 12 de Março de 1975, no edifício da Infante Santo, acabou por ser preso. Na prisão de Caxias, a família Espírito Santo ocupava a cela ao lado da sua. Libertado dez dias depois, só saiu do país em Agosto de 1975, para a Suíça, onde ficou três anos. Segue depois para o Brasil, onde fica mais três e onde chegou a ter interesses nos adubos e nos tabacos.

Afirmou que após o 25 de Abril de 1974, "a pressão era de tal ordem que eu, na altura presidente da CUF, tive de saltar a fronteira várias vezes com o meu filho". 
Jorge de Mello classifica este período como "um tempo perdido, no sentido de não ter correspondido a nada de útil, não se inserir em nenhum projecto com sentido. Não penso que sobreviver seja um projecto muito estimulante, sobretudo quando tanto havia para fazer na economia portuguesa".
Regressou a Portugal em 1986 e nunca abandonando a sua vocação de industrial deitou mãos a obra e fundou um grupo empresarial virado para o sector da alimentação a Nutrinveste.

Era o Sócio Honorário n.º 1 da Memória Colorida Associação - Os Amigos da Colónia de Férias da CUF.

"Homem que nunca cruzou braços e que tudo fez pela dinamização da industria em Portugal. Sem ele o pais ficou mais pobre..... merecendo uma homenagem de gratidão por tudo aquilo que foi e pela obra que criou. Ate sempre....!"